
O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, recebeu a Rodovias&Vias, na Granja Santana, sua residência oficial. Com um mapa do estado sobre a mesa e informações sobre todas as obras na ponta da língua, Ricardo Coutinho fez questão de frisar, em vários momentos da conversa, a sua preocupação em oportunizar desenvolvimento econômico e integração para todo o estado. Acompanhe a entrevista e conheça um pouco mais sobre o projeto do governador para o estado.
ENTREVISTA
Rodovias&Vias - Como o senhor avalia a logística rodoviária do estado da Paraíba?
Ricardo Coutinho - Em parte, a Paraíba conta com uma boa logística. Possui a BR-101 toda duplicada, a BR-230, entre João Pessoa e Campina Grande, toda duplicada, além das BRs 104, 412, no Cariri, e 434, no sertão. É um estado que tem porto e ferrovias. Possui uma malha estadual que estava muito deteriorada, mas que, até 2014, será indiscutivelmente a melhor malha rodoviária do Nordeste. É um estado que tem capacidade e que, apesar de dialogar muito com o passado, insistindo no atrasado, estamos aplicando uma lógica de potencial importante, queremos falar com o futuro. É essa, simbolicamente, a lógica e o grande debate que existe hoje na Paraíba.
O senhor falou que, até 2014, o estado contará com a melhor malha rodoviária do Nordeste. Qual a estratégia?
O meu horizonte nessa gestão é em relação à qualidade. Há algumas décadas, a Paraíba já foi exemplo de qualidade nas vias internas, nossas rodovias estaduais. Tínhamos essa fama. Nos últimos anos, vimos essa qualidade se diluir por falta de manutenção, por irresponsabilidade. Quando assumimos o governo, 80% da malha estava destruída. Dos 223 municípios do estado, 54 não tinham acesso pavimentado. Algo extremamente preocupante, pois 54 cidades não tinham nenhuma possibilidade de desenvolvimento. Algumas cidades não contavam nem com posto de combustível. Priorizamos o acesso a esses municípios no programa rodoviário. Porém, o tamanho da necessidade é grande e o tempo de um mandato é pouco. Começamos um programa (Caminhos da Paraíba) que abrange quase 1.000 quilômetros de rodovias, entre pavimentações e restaurações. Eu falo restauração como licença poética, porque na verdade estamos implantando novas rodovias. O que existia era algo que um dia teve asfalto, mas ele desapareceu. São 578 quilômetros de restauração. Nos 397 quilômetros de pavimentação, 95 quilômetros já estão concluídos e 302 em andamento. Nesse pacote de pavimentação, nós vamos tirar 18 cidades do isolamento até o final do ano.
Há uma obra de restauração que é emblemática. A PB-306, entre Matureia e Princesa Isabel, cidade na qual, em 2010, chegava-se apenas por estradas de Pernambuco. Um trecho importantíssimo em uma região, na qual o número de assaltos crescia, alimentos ficavam mais caros e profissionais mais raros. O frete estava caríssimo por causa da deterioração dos veículos. O custo refletia na cidade. São praticamente 1.000 quilômetros de rodovias sendo construídas ou reconstruídas neste momento, considerando que a Paraíba tem 2.500 quilômetros de rodovias pavimentadas. Com um detalhe: pagamos tudo, efetivamente, em dia. As empresas de fora vêm ao estado porque sabem que a Paraíba honra com seus compromissos.
Qual a previsão de investimentos do Programa?
Só em pontes e passarelas, o programa Caminhos da Paraíba já investiu R$ 20,2 milhões. Estamos reestabelecendo ligações, reconstruções de pontes que caíram com a chuva do ano passado, pontes antigas que foram restauradas. Estamos hoje com um programa com R$ 306 milhões e vamos chegar, ainda neste ano, a R$ 678 milhões, não de conclusão, mas de início das obras. Existe outro financiamento, na reta final de aprovação junto ao BNDES, de R$ 550 milhões para o estado, dos quais R$ 246 milhões serão para rodovias.
O interior será privilegiado?
Nós compreendemos que é um momento de integrar a Paraíba. Governou-se muito tempo na lógica de João Pessoa e Campina Grande. Eu quero olhar sobre a lógica do estado, como um todo, porque se eu melhorar o estado, João Pessoa e Campina Grande também melhoram. Quando a gente favorece a integração, a perspectiva de desenvolvimento é favorecida. É por isso que temos postura ofensiva, radicalmente resolutiva. Em seis ou sete anos, não quero mais encontrar nenhum município isolado, e quero cumprir o diálogo do desenvolvimento através de estradas, junto com a economia, conectando cada área produtiva do estado.
A Paraíba é um estado que possui vocação ferroviária e conta com grandes jazidas de minérios. Qual a relação do estado com a Transnordestina?
A Transnordestina até hoje ignora a Paraíba. O modal ferroviário é fundamental para o nosso estado, inclusive para fazer a ligação com os portos da região Nordeste. Infelizmente, na época de se pensar a Transnordestina, a Paraíba ficou de fora. Estamos conversando com a presidenta Dilma e o governo federal, para adequar esses projetos e interligá-la com o sertão do estado. Não se tira ferro se não for através de ferrovia, não tem como. A Paraíba tem 600 milhões de toneladas de ferro no alto sertão, zero é explorado. Temos uma importante jazida de fosfato, na bacia do (rio) Miriri, descoberta recentemente. Somos ricos em minério não metálico, fundamental na indústria química. Estamos fazendo um investimento muito grande nas cooperativas, mecanizando e qualificando a mão de obra, para aumentar o valor agregado do produto extraído, isso intensifica ainda mais a carência pelo modal ferroviário.
Qual o potencial do Porto de Cabedelo?
O Porto de Cabedelo é um porto antigo, com maquinário ultrapassado e que se tornou praticamente urbano. Mas no último ano, aumentou sua movimentação de cargas em 30%, mesmo com a crise na economia mundial. Neste ano, aumentou suas exportações em 28% e a movimentação de cargas, em 24%, com relação ao ano passado. É fundamental o projeto que está no Grupo Executivo do PAC (GPAC), visando a modernização do porto, construção de um terminal de múltiplo uso para contêineres e a duplicação dos berços de atracação de navios. Existe a necessidade da conclusão da dragagem do porto, que é uma obra do governo federal e está 95% concluída. Com isso, o calado será ampliado para 12 metros de profundidade. São obras pontuais. O Porto de Cabedelo, diferentemente do que alguns pensam, não compete com o Porto Suape. Ele não tem essa função. Ele complementa Suape, que é um grande porto, mas que opera acima de seus limites. Hoje a Paraíba escoa 35 mil contêineres por Suape. Estamos começando uma espécie de “repatriamento” desse material, para que saia ou entre pelo porto de Cabedelo. Nosso porto pode ter tarifas bem mais amenas e trabalhar focado, por exemplo, no complexo automotivo, como o da Fiat. Ou de um futuro complexo que possa se estabelecer aqui, como anunciou recentemente o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, do grupo CAOA. Na minha concepção, o problema de porto não é tamanho e sim eficiência. Cabedelo é viável, é mais do que viável, é necessário, e espero que as obras e investimentos, previstos no GPAC, comecem ainda dentro da minha primeira gestão.
No quesito infraestrutura aeroportuária, a Paraíba está bem servida?
Não, de jeito nenhum. Eu disse na época ao presidente Lula que a reforma feita (no aeroporto) no valor de R$ 55 milhões, dos quais R$ 40 milhões provenientes de recursos do estado, era bastante tímida e quando concluída já estaria obsoleta. O Aeroporto Castro Pinto, que serve João Pessoa, teve agora, no mês de maio, um aumento de embarques e desembarques de 9,5%. Foi o terceiro aeroporto do Brasil em aumento de circulação de passageiros, que no passado atingiu a marca de um milhão e cento e cinquenta mil passageiros e ainda apresenta uma demanda reprimida muito grande. É inevitável que a Paraíba passe por um novo ciclo de desenvolvimento do turismo regional. Mesmo que fizéssemos uma barreira para isso não acontecer, falando em uma forma figurada, não haveria a possibilidade de isso ocorrer. E esse ciclo de desenvolvimento do turismo, em sua essência, requer um novo aeroporto. Compreendendo as condições econômicas que o Brasil tem hoje, que precisamos navegar com segurança, porém, afastando a recessão, precisamos de reformas que coloquem a Paraíba como um destino seguro de grandes linhas. Estamos articulando uma ponte com o Mercosul, que quer descobrir o Nordeste. Nós recebemos vários operadores argentinos e mostramos para eles que João Pessoa, por estar no centro do Nordeste, pode ser o ponto de chegada e de escoamento de grande número de pessoas que fazem turismo anualmente. Primeiramente serão voos fretados, mas concretamente teremos uma ponte aérea.
Qual a participação do governo federal no estado da Paraíba?
A construção do Canal das Vertentes. Essa é uma obra de R$ 1 bilhão e a maior do Ministério da Integração atualmente. Vai ligar Acauã, no Vale do Paraíba, que é uma barragem, até o brejo, na barragem de Araçagi. São 122 quilômetros proporcionando a possibilidade de 16 mil hectares irrigáveis. Terras que são as mais preciosas na Paraíba. Essa terra já foi muito importante para a pecuária, mas com o declínio da atividade, ao longo de décadas, essa região sofreu muito. Com esse canal, vamos ter a capacidade de garantir segurança hídrica, já que na segunda etapa teremos mais seis barragens médias. O Canal das Vertentes Litorâneas também vai ressuscitar perspectivas de desenvolvimento na agricultura e pecuária, que é de longa tradição na Paraíba. Éramos referência nacional na qualidade da nossa matriz, na nossa genética. Estamos em busca de resgatar isso, fazendo com que alguns polos de pecuária concentrados no sertão voltem a aparecer na região.
O que o fim da CIDE representa para a Paraíba?
Estamos muito preocupados com o fim de alguns incentivos ou isenções, cujo prejuízo quem termina pagando são os estados e municípios. Esse anúncio recente, sobre zerar a CIDE para que o preço dos combustíveis não aumente na bomba, é muito preocupante. Essa receita estava orçada e existe uma programação para ela. Os estados não têm como abrir mão de receita. Já basta a diminuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE), decorrentes das isenções do EPI. Nosso programa está em curso, nós não podemos parar. A CIDE representa 150 quilômetros de rejuvenescimento com microrrevestimento asfáltico na conservação de rodovias. Eu gostaria muito que a presidenta Dilma ouvisse esse apelo. Eu estou formalizando isso, porque nós não podemos mais diminuir receita. Falta de receita significa paralisar obra. Penso que a presidenta vai analisar isso com muita justiça, como sempre faz, e vai rever essa decisão, fazendo com que a isenção seja apenas da parte do governo federal e que a parte dos estados fique intacta.
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